terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

O Amor dos Velhinhos por António Oliveira

O Amor dos Velhinhos As velhas da Ilha Terceira António Oliveira
Um velhinho certo dia
Passou por uma freguesia
Viu uma velhinha sentada.

Aproximou-se sorridente
Mas como não tinha nenhum dente
Mantinha a boca fechada.

Voltou-se para ela e disse
Bom dia minha princesa
A velhinha olhou para ele e riu-se
Pois a saudação causou-lhe surpresa.

Porque na sua idade avançada
Tinha visto tanta gente malcriada
Agora estava desiludida.

Nunca lhe passou pela mente
Que naquele exato momento
Alguém lhe ia mudar a vida.

O velhinho com cuidado
Da velhinha se aproximou
E de um modo delicado
Ao lado dela se sentou.

A velhinha ficou mais surpresa
Mas por causa da delicadeza
Ela não se importou.

Pois estava abismada
Com aquela maneira educada
Como o velhinho a saudou.

Pois ela não estava acostumada
A ser saudada desta maneira
Por isso estava interessada
Em conhecer o velhinho a sua beira.

Ela tinha o pressentimento
Que este velhinho inteligente
Não lhe era desconhecido.

Tentou ver se se recordava
E voltas à cabeça dava
Sem saber qual o motivo.

Ao lado daquele velhinho que ali estava
Ela se sentia muito bem
Como ao lado de alguém que ela amava
Embora não soubesse quem.

O velhinho na sua persistência
Disse-lhe, princesa tem paciência
Mas responde-me a uma pergunta.

Conheces aqui uma senhora
Que tenho na minha memoria
Não sei se é viva ou defunta.

Só sei que ela era muito linda
Quando eu daqui partiu
E orei para que na minha vinda
Ela ainda se encontre aqui.

A velhinha teve um calafrio
E dentro de si sentiu
Ao mesmo tempo um calor.

Será que estava enganada
Mas, mas senão, ao lado dela estava
O seu primeiro e único amor.

A velhinha lhe perguntou com tremor
De maneira que até suava
Diga-me la meu senhor
Como era que ela se chamava.

O velhinho com ironia
Disse-lhe que ela era Maria
Filha de Fulano de Tal.

Ela tinha uma formosura
Um olhar sereno e uma brandura
Não havia outra igual.

E eu pediu a Deus um favor
E este favor espero ter
De voltar a ver o meu amor
Antes do dia de morrer.

A velhinha com nó na garganta
Subitamente se levanta
E perguntou com destemor.

O senhor veio aqui a freguesia
A procura dessa Maria
Mas afinal quem é o senhor?

Eu te tenho estado a observar
Louvado seja o Senhor
Será que eu estou a falar
Com o meu querido amor?

Eu sou o Manuel Beltrano
Que é filho do Sicrano
Que aqui também viveu.

Essa informação me pediste
Mas esse homem já não existe
Pois esse homem já morreu.

Tantos anos levei uma lida
Para muito dinheiro poder ganhar
Mas o mais importante da minha vida
É o meu amor encontrar.

A velhinha mais animada
Mas muito emocionada
Não sabia o que dizer.

Olhando para ele ela riu-se
Depois ela lhe disse
Bem me queria parecer.

Um velhinho tão delicado
Não se encontra todos os dias
É diferente do velho malcriado
Que é usado nas cantorias.

Quando tu me destes bom dia
Meu coração começou a palpitar
Sentiu tao grande alegria.

E vontade de te abraçar
Mas como não te conhecia
Não queria vergonha passar.

Eu é que sou a tal Maria
A filha do Fulano de Tal
O meu Deus que alegria
Acabou-se todo o meu mal.

Vejam só que sorte a minha
Vejam só que feliz momento
Tantos anos vivi sozinha.

Agora nos encontra-mos de repente
Agora que já sou velhinha
Sou feliz finalmente.


Uma Velha da Ilha Terceira com o título O Amor dos Velhinhos enviada por
António Oliveira a quem muito agradecemos

1 comentário:

  1. A VELHINHA DISFARCADA

    Certo dia uma rainha
    Disfarcou-se de velhinha
    E foi percorrer o seu reinado
    Por aonde ela ia passando
    Ela ia anotando
    Quem era necessitado

    Pernoitou em certa aldeia
    Em casa de uma velhinha
    Que a luz de uma candeia
    Teava uma mantinha

    A rainha observava
    Que enquanto ela teava
    Os seus labios se moviam
    Ao mesmo tempo ela chorava
    E a sua cara lavava
    Com as lagrimas que lhe caiam

    A rainha preocupada
    Nao sabia o que fazer
    Mas ver aquilo e nao fazer nada
    Era contra o seu poder

    Por isso se levantou
    E da velhinha se aproximou
    E lhe fez uma pergunta
    Diga-me la minha senhora
    Porque é que voce chora
    Tua dor deve ser muita

    A tua magua vais-me contar
    Diz-me qual é a tua dor
    Pois eu te quero ajudar
    Seja de que maneira for

    A velhinha deu um ar bem disposto
    E com o avental limpou o rosto
    E depois deu um sorriso
    Disse-lhe nao te preocupes comigo
    Estando acompanhada contigo
    É tudo o que eu preciso

    As minhas lagrimas nao sao de dor
    Mas sim lagrimas de alegria
    Porque Deus nosso Senhor
    Hoje me providenciou companhia

    Porque a maior necessidade
    Que temos na nossa idade
    É aquilo que nao nos dao
    Um pouco de solideriedade
    E ter alguem ao nosso lado
    Para combater a solidao

    Nao tenho necessidade de pao
    Nem mesmo de agasalho
    Mas sei que muitos la fora estao
    Deitados no chao e ao orvalho

    Por isso choro neste momento
    Mas ainda assim estou contente
    Por alguem eu poder ajudar
    Aquilo que a mim me convinha
    Era falar com a nossa rainha
    Mas nao me deixam passar

    Sei que ela é muito boa
    E ela me iria escutar
    Porque ela é uma pessoa
    Que gosta muito de ajudar

    Se até ela pude-se chegar
    Muito lhe iria contar
    Mas com esta esperanca eu fico
    Que um dia alguem ha-de governar
    De maneira que atencao vai dar
    Tanto ao pobre como o rico

    Sei que se ela soube-se
    O que se passa no seu reinado
    Talvez ela fize-se
    Um lar para o atribulado

    A rainha comovida
    Viu-se entao comprometida
    E a velhinha respondeu
    Eu é que sou a rainha
    Muito obrigada minha velhinha
    Pela pernoita que me deu

    Agora sei pelos vistos
    O que é que tenho de fazer
    Porque todos os meus ministros
    A verdade me estavam a esconder

    Vou voltar ao meu castelo
    Pois tenho saudades delo
    E de no meu trono me assentar
    Quando de la sai ideia nao tinha
    Que na casa de uma velhinha
    Que eu iria pernoitar

    Por causa da tua acao
    Em ospitalidade me mostrar
    Vou-te construir um salao
    Para abrigares os sem lar

    E uma lei eu vou dar
    Que a todo o reinado vai chegar
    E é para se obedecer
    Que quando ofenderem uma velhinha
    Nao se esquecam que a rainha
    É que a vai defender

    O autor destas quadras deseja
    Que esta velhinha seja respeitada
    Nao importa que ela seja
    Bem feita ou mal amanhada

    Antonio Oliveira conhecido por Antonio Mintoco

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